Acetetos (poesia)
Litteris Editora - 2015
"...parece ser próprio da poesia rebelar-se contra nossas vontades, revelando, à revelia, caminhos muito mais interessantes do que aqueles que humildemente traçamos para ela em nossos rascunhos..."
Marcelo Aceti
Sete, sete, acético, Aceti!
Mensagem do autor
Assim, depois de muito testar, estudar, experimentar formas e fazeres, acho que alcancei um jeitinho agradável e leve de compor meus versos. Não digo melhor, leve!
Meio soneto de comprimento por uma redondilha de largura. Um quarteto, um terceto... sete versos. (...)
Alguns Acetetos
Passo
04/05/2011
Sinto aperto no meu peito
Sigo andando meio manco
Sigo, canso e me deito
Sinto, tenho que ser franco
Num poema tão sem jeito,
Eu percebo só ter feito
outra página em branco
Nu (flagra)
04/05/2011 - 06/05/2011
Quem pegou o meu soneto
e jogou metade fora?
Encontrei só um quarteto
Ai, meu livro! e agora?
Quando abri o meu terceto
Eu flagrei meu poemeto
com redondilhas de fora
Acessório
17/05/2011
Passa o dia no Salão
e o cabelo despenteia
ou - pior! - um esbarrão
pode desfiar a meia.
Todo mal tem solução!
Pra qualquer ocasião,
leve uma amiga feia...
ponto e vírgula
Enganando a lei da vida,
um poeta escrevia
cada lágrima contida
num papel que ninguém lia
Quando a noite era sofrida,
ensaiava a despedida,
respirava; e seguia...
Lucas 6, 41
Não há cruz que me segure,
que me impeça de gritar;
não tem fé que me torture
e que faça eu me calar!
Quem quiser, pois, que procure
um remédio e se cure
de querer vir me curar...
Não há cruz que me segure,
que me impeça de gritar;
não tem fé que me torture
e que faça eu me calar!
Quem quiser, pois, que procure
um remédio e se cure
de querer vir me curar...
Em um céu vasto e tranquilo
02/08/2011
se levanta para o novo
um bater de asas suave.
Acompanha outro voo,
delicada e humilde ave...
É o teu canto que entoo
o teu som, em mim, ecoo
delicada e humilde, Ave!
um bater de asas suave.
Acompanha outro voo,
delicada e humilde ave...
É o teu canto que entoo
o teu som, em mim, ecoo
delicada e humilde, Ave!
Meus nós
27/08/2011
sou só eu, sou um, sou só
sou somente uma vontade
de ser mais, mas sendo pó
vive em mim outra metade
que me quer prender sem dó
apertando cada nó
indiviDUALIDADE
sou somente uma vontade
de ser mais, mas sendo pó
vive em mim outra metade
que me quer prender sem dó
apertando cada nó
indiviDUALIDADE
Desequilibrista
05/09/2011
Há equilíbrio na balança
a pesar, de tudo, um pouco.
Há equilíbrio em cada dança
e em cada grito rouco.
Até quando o corpo cansa
e o equilíbrio nos balança,
apesar de tudo... um pouco!
a pesar, de tudo, um pouco.
Há equilíbrio em cada dança
e em cada grito rouco.
Até quando o corpo cansa
e o equilíbrio nos balança,
apesar de tudo... um pouco!
Zi fi
30/05/2011
De visita a uma dama
que mexia com o Além,
perguntei: como se chama
esse velho sem vintém?
Rindo, disse a tal mucama:
preto-velho não se chama;
se precisa, ele vem...
que mexia com o Além,
perguntei: como se chama
esse velho sem vintém?
Rindo, disse a tal mucama:
preto-velho não se chama;
se precisa, ele vem...
Beduíno
07/09/2011
Quantas vezes eu me pego
a olhar os meus desertos
e parece que estou cego
Tantos vultos, tão incertos...
Não confirmo e não nego
Nas areias do meu ego
quantos eus estão cobertos?
a olhar os meus desertos
e parece que estou cego
Tantos vultos, tão incertos...
Não confirmo e não nego
Nas areias do meu ego
quantos eus estão cobertos?
Desperta dor
01/03/2012
Solitários se recordam
Bons amantes vão sorrindo
Geladeiras nos engordam
A cidade está dormindo!
Os meus sonhos me acordam
Pensamentos me transbordam
E a cidade está dormindo
Bons amantes vão sorrindo
Geladeiras nos engordam
A cidade está dormindo!
Os meus sonhos me acordam
Pensamentos me transbordam
E a cidade está dormindo
Bicho-papão
01/03/2012
Escondido no escuro
tem um bicho todo fome.
A fraqueza do inseguro,
medo, angústia... tudo come!
Mas, se, mesmo no apuro,
fico firme, ah, eu juro!
Ele grita e logo some...
tem um bicho todo fome.
A fraqueza do inseguro,
medo, angústia... tudo come!
Mas, se, mesmo no apuro,
fico firme, ah, eu juro!
Ele grita e logo some...
vinte e três de abril
23/04/2012
Guarde a lança, cavaleiro!
No outro lado do alforge
vai a espada do guerreiro.
Eu não sofro mal algum!
Nem sei bem dizer se Ogum
é devoto de São Jorge
ou Jorge é filho de Ogum...
Saideira
Você vive na certeza
de que a morte ainda demora
Acredita com firmeza
que não vai chegar a hora
E, num susto, de surpresa
Vem a vida, vira a mesa
Pede a conta e vai embora
No outro lado do alforge
vai a espada do guerreiro.
Eu não sofro mal algum!
Nem sei bem dizer se Ogum
é devoto de São Jorge
ou Jorge é filho de Ogum...
Saideira
Você vive na certeza
de que a morte ainda demora
Acredita com firmeza
que não vai chegar a hora
E, num susto, de surpresa
Vem a vida, vira a mesa
Pede a conta e vai embora
